Aurora de Brito trocou Trás-os-Montes por Lisboa aos 12 anos. Veio à boleia de uma tia, irmã da sua mãe, que lhe deu casa e um emprego. Era dela a banca no Mercado de Ourique onde Aurora vende fruta há 68 anos.
Aos 80, ainda não se imagina a não ir trabalhar para o mercado todos os dias. Recorda uma altura em que o marido, médico, a proibiu de ir trabalhar porque “parecia mal a mulher do médico estar a vender fruta no mercado.” Aurora ia enlouquecendo. Passou oito meses em casa e “dava tareia” a toda a gente, aos filhos e até aos gatos. O marido lá mudou de ideias, disse que preferia “vê-la no mercado do que numa casa de saúde”, e Aurora nunca mais esteve tanto tempo afastada da sua banca. Diz que “adora estar aqui, a falar com as senhoras e trocar receitas.”